sexta-feira, 15 de junho de 2012

EDUCAÇÃO
Educar o quê? E para quê?

Desde há décadas que se estuda e debate a educação. Numerosos especialistas têm-se debruçado sobre o tema e proposto as mais diversas ideias. Curiosamente, apesar de tanto envolvimento, a educação não tem feito grandes avanços. Para P.Drucker, aliás, a educação é o sector da sociedade que mais lentamente evolui, necessitando geralmente de 15 anos para mostrar alguma inovação importante.

O problema começa logo por ter de se destrinçar o que é, afinal, a educação. Habitualmente, entende-se a educação como parte do desenvolvimento pessoal e cultural, a aprendizagem de sentimentos de cidadania e a aquisição de saberes/competências (técnicos, artísticos e científicos). A família, a sociedade e o sistema de ensino oficial são os principais agentes educativos.

O problema maior da educação centra-se, porém, naquilo que se educa. Na verdade, com ou sem a interferência direta de "educadores" (sejam pais ou professores), muito daquilo que aprendemos resulta de outros agentes disseminados pela sociedade, nomeadamente as religiões e os estados.

Na educação, os governos têm, geralmente, uma grande intervenção e não apenas na transmissão de saberes ditos académicos. O ensino é permeável a toda uma série de intromissões. É certo que, como escreveu Montaigne, "vale mais uma cabeça bem feita do que uma cabeça cheia". Infelizmente, nem sempre acontece isso. A tentação é encher a cabeça. Vê-se até na quantidade incrível de dados e saberes que as crianças têm de aprender para poderem subir de nível, vencendo os diferentes exames.

Mas a educação tem algo mais perigoso. É que todos os conteúdos podem ser "manipulados" para fazer uma "cabeça bem feita" e também "cheia" de crenças e distorções que satisfaçam os interesses dos seus promotores, nomeadamente o estado (veja-se como, durante anos, a igreja católica interferiu nos programas escolares sob a proteção dos poderes políticos). Neste caso, a educação condiciona o educando e retira-lhe o sentido crítico e até a liberdade de escolha (dos saberes, dos pensamentos e das crenças).

Educar ainda é moldar, esculpir, trabalhar a cabeça dos mais jovens (e não só) para domesticar as mentes e garantir comportamentos e escolhas que satisfaçam os superiores interesses da sociedade.

Mesmo nas sociedades ditas democráticas, nenhuma pessoa escapa a esta domesticação. Aliás, ela começa bem cedo, quando os nossos pais nos dizem "como deve ser" e aquilo em que é lícito (para eles) acreditarmos. Quando vejo crianças bem pequeninas vestidas com o equipamento do clube preferido do pai (ou dos pais) já adivinho qual vai ser o clube que a criança vai idolatrar (pelo menos durante uns anos até se libertar do vírus).

Nelson S. Lima

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