sexta-feira, 7 de março de 2014

Todas as mulheres todos os dias



Feminina,

De origem latina. Nasce de femea, vem do verbo Fevo que significa fecunda.

A mulher é a força renovadora do mundo. É a energia libertadora do universo. Porque cria e transforma uma simples célula em vida. É fecundidade.

É um caso sério. Um caso leve. Um caso belo. Um caso digno. Um caso inteiro de distribuição de partes de si.

Há quem diga que não pode ser muito inteligente nem livre. Ou vai parar a um postíbulo ou será lobotomizada. Ou é acusada de não querer amar, ou de querer ser do sexo oposto. 

Com todos os julgamentos, todos os fardos que recaem nos nossos ombros fortes e em simultâneo vulneráveis, muitas não conseguem adaptar e conjugar as suas forças com as suas fragilidades.

Reunimos nas nossas células todos os dons e talentos. Todas as injúrias, violências, violações e segregações seculares. Reunimos em nós os sacrifícios de cuidar dos outros e de nós próprias, muitas vezes esquecendo “nós próprias”. 

Congregamos todas as artes e manhas. A malícia e a coragem. A sabedoria e a dor. A maçã e a serpente. Mu-lher (minus-fé ou de fé menor na humilhação sofrida por parte dos Inquisidores). Bruxas e santas.

O matriarcado já foi dominante e o mundo teve maior equilíbrio. Hoje as mulheres esquecem-se do seu significado e querem ser quem não são. O medo de perder poder torna-as andróginas no ser. Perdem a sua razão de ser. 

Fomos feitas femininas para aceitarmos a fecundidade. Não apenas a maternidade. 

Sem perder a capacidade de amar, de dar, de conciliar, de intervir, de ter uma atitude firme, de pensar pelas nossas cabeças, de não ter medo nem vergonha de ser frágil e forte.

Feitas para dizer não e dignificar o significado da palavra feminina. 

Os homens quando são infiéis são-no com outras…mulheres. Iguais a nós. Dão-nos valor. Sabem o valor intrínseco que temos. Muitos têm apenas medo de o aceitar. E tornam-nos escravas, também dos rótulos.

Todas as mulheres carregam os mesmos pesos e prantos, os mesmos vazios, desamores e rejeições, as mesmas dores, sensibilidades, infelilicidades mas também as mesmas bênçãos, alegrias, sorrisos e amores.

Aceitemos nós o nosso papel de farol para guiar os barcos perdidos nas noites de tempestade ou de grande escuridão. Lua e sol são as faces da mesma moeda,o ser humano. 

O feminino e o masculino que todos comportamos. Somos a mãe do homem. Somos luz e trazemos luz. Somos uma parte de igual valor do todo.

Sexo fraco vs sexo forte? A forte mulher deixou-se dominar e perdeu-se na sua própria história.Na sua própria essência. Poder vs domínio. Domínio para transmutar dor em sorriso e vestir as máscaras necessárias.

Guerra de sexos? Não precisamos de guerra contra o nosso outro lado. Precisamos tão só de aceitar quem somos e, não ter medo de ir contra o domínio vindo de quem tenha poder. 

Como a água do rio em busca do oceano, contorna os obstáculos que encontra e, faz novos caminhos. Cumpre o seu papel.

Dediquei um texto que escrevi à mulher africana e dedico-o hoje a todas as mulheres da minha vida, da minha tribo e por essas tribos fora, sem excepção. Aos meus afectos femininos que são muitos.

Com um desejo que nasce de um coração feminino: que todas as mulheres se recordem da beleza que contêm para oferecer ao mundo, nova vida. Sejemos pedras rolantes. 

Com o coração e a inteligência. A sensibilidade e o bom senso. E não criaremos musgo.

“Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas” Saint Exupéry

As larvas habitam o coração da mulher africana, transmutam-se em borboletas, e, alimentam-se do pólen dos seus corações.
Mereces tantas palavras de reconhecimento. És a verdadeira borboleta, com diferentes metamorfoses ao longo da vida.
São crianças mãe, são mulheres crianças, crianças mulheres. As crianças que envelhecem, as velhas que de meninas nunca deixam de o ser.
Carregas fardos pesados nas costas, fardos leves no ventre, fardos tristes na alma, fardos cansados na cabeça. Mas quase sempre fardos.
São o todo e o infinito em África. As mulheres em África.
Por causa delas, eles ficaram leves. 
A vida torna-se pesada nas guerras, porque lhes deita o sangue na terra e este alimenta as sementes.
Mas os frutos foram e são ainda hoje e até hoje, tratados e colhidos por elas.
Por ela e com ela, África renasce cada dia, com o sol, e adormece com a lua. Incansável. E assim será. Até se encontrar com a mãe que lhe dá a luz.
És serena, paciente, doce, altruísta. Ainda hoje abusada, violentada, excisada. Mas leve, no ser. Sem ti, o continente estaria ferido de morte. Em agonia.
Serão sempre poucas as palavras, as homenagens e os carinhos que te podemos oferecer. És filha da vida, ofereces a vida, para o resto da vida.
Deste continente tão meu, esta mulher tão sábia que se empresta para voltar sempre, eternamente, a se encontrar. A nos encontrar. A dar a sua vida. A me ensinar a ser mulher.
De um homem que sabe transformar palavras, em amor,pelas mulheres:

“Sob o céu africano volto a ser mulher. Terra, vida, água são do meu sexo. O céu, não, o céu é masculino. Sinto que o céu me toca com todos os seus dedos." (Mia Couto)
Sinto que hoje e sempre, sou composta no meu sexo, desta terra,desta água e tocada por este céu. Diariamente e para a eternidade, nunca quis ser de outro sexo,nem de mais nenhum outro continente, como tu, mulher africana.

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