quinta-feira, 8 de maio de 2014

Prometo!



Na espuma dos nossos dias,

Prometo!

Quando eu chegar ao céu algum anjo vai-me arrastar por um braço e sussurrar: entra depressa para o diabo não te ver.
Tenho de tratar das minhas vísceras. É imperioso que o faça para não me arranhar por fora. Por dentro elas já enviam para a corrente sanguínea um ácido estragado. «A terra está um lugar inóspito» e vivemos iludidos.
Tudo está perigoso à nossa volta e tal como a mulher violentada, somos essa espécie de vítima. Com o que se passa neste canto do mundo e noutros que me afectam porque são cantos dos meus afectos, andamos incapazes de pensar pelas nossas cabeças, de limpar a merda da fralda e um dia destes estamos todos a sofrer da síndroma de Estocolmo.
Desenvolvemos um laço afectivo com os nossos torturadores, identificamo-nos com eles e votamos neles. Temos mais smartphones mas somos cada vez menos espertos se não usarmos a tecnologia para nos salvarmos como um todo.
Também me preocupa a nossa incapacidade de sentir empatia, de optarmos por silêncios, por meias verdades ou a total falta dela, de nos estarmos a distanciar uns dos outros nos relacionamentos uns com os outros nesta imensa tribo.
Todos precisamos de ser individualmente reconhecidos pelos outros como seres especiais e em simultâneo sermos parte da tribo. Individualmente e pertença são uma seta numa só viagem. Todos somos seres especiais. Cada um de nós. A nossa singularidade manifesta-se no conjunto, com os outros.
Por isso, sentir é tão importante. Ser humano nos dias de hoje é uma tarefa delicada, complicada, difícil, cansativa. Quase que nos leva à rendição antes do tempo. Precisamos de ajuda uns dos outros mas publicamente fingimo-nos heróis. Somos heróis mas arrastamo-nos vazios e iludidos.
No meio dos nossos dias lidarmos com tanta tortura e infâmia e ainda assim saber rir, colocarmo-nos nos sapatos dos outros, dar de comer aos filhos, educa-los, estender a mão ao vizinho, ou trazer o estranho para nossa casa, convidá-lo para o jantar em família e oferecer-lhe um banho quente, ou ultrapassar o trânsito sem accionar a fisga electrónica montada no pára-brisas, e, ver a conta negativa sem nos despencarmos em alguém ao nosso lado, isso é ser zen.
Antes do meu encontro com o anjo que me vai deixar entrar no céu antes do diabo me apanhar, vou continuar a gostar desta montanha russa em que subi quando aceitei pagar o bilhete para esta corrida.
Não vou deixar de fazer o que gosto, procurar manter a minha alma limpa, não deixar que a minha dignidade seja vendida nos mercados e lutar para defender a dignidade da minha tribo. Essa é a minha moeda de troca no mercado onde hoje sou vendida.
Isso é tudo o que importa e deveria importar a cada uma das vítimas dos flagelos da modernidade. Temos tudo nas mãos para curar a síndroma. Temos sim. Conhecimento, tecnologia, vontade, capacidade e doses suficientes de loucos.
Muitas campanhas merecem toda a atenção cá dentro e lá fora. É uma das formas de pressão de que dispomos. Falar, divulgar, discutir. Mas nunca calar o que precisa ser exposto. Salvamos um, salvamo-nos a todos.
Determinar quem quero ser e o que quero fazer poderia vir das doutrinas dos livros de Marx ou dos apóstolos, por exemplo. Mas prefiro as doutrinas vindas dos livros dos poetas, dos filósofos e dos escritores inspirados e apaixonados pela humanidade. Vou ficar amarrada a elas.
Se não o fizermos rapidamente temo que os ácidos subam pelo esófago e ao atingirem a laringe serei dominada pela síndroma de Tourette.
Bring back our humanity to our humankind

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