sexta-feira, 27 de março de 2015

Exposição de Pintura e Poesia: Djumbai

Um dia eu tinha de escrever sobre mim, sobre a discriminação,
sobre o "bullying". Sobre quem sofre este preconceito. Pela cor.Preta. Ou a ausência dela. Ou a única cor. Por uma cor. 
Por uma cor? Diferente? 
Foi com este quadro que irá estar na exposição do Sidney que apareceu a inspiração.
Chama-se Natan. 

Em mim cabem todas as cores

Tens de ser branca
fazer como os brancos
e de tanto conviveres com eles
ficas branca...
Um pouco de pó de talco e mudo de cor...
"Preta da Guiné, lava a cara com xulé"
"preta retinta",
bata rasgada, botões arrancados
de tanto soco dar,
de tanto puxão suster
de tanta lágrima calar
de tanto soluço abafar
por tanto insulto receber
Preta, mulata
o mesmo peito, o mesmo coração
branca
as mesmas pernas, as mesmas mãos
Então...
porque razão?
Procurando consolo fica a menina criança, o menino homem
sem tamanho,
grande como um humano,
Não, não me zanguem mais
não, não me magoem mais
é esta a pele que tenho
é esta a pele que não me deixa
é esta a pele que não gosto.
É nesta pele que sou...desconfortável
para mim
para os outros que me magoam, que me zangam.
Quero voltar a mim,
agarro no dedo com força entre os lábios grossos 
de preta
nos lábios grossos mulatos de preto,
nos cabelos 
de fios escarpados como montanhas brancas
lisos como Himalaias negros,
frondosos como selvas
de planuras feitos, como savanas,
conforto-me com ele na boca,
sinto o sangue que sai do coração a passar 
pára no céu da boca e traz-me a mensagem:
-Este sangue que trazes,
é o sangue dos teus avós, pais e ancestrais
pretos e brancos
sementes de todos os continentes, rios, lagos, montanhas e oceanos,
fizeram de ti preta 
e mulata
Igual.
Lembra-te 
És a tua pele e és a tua alma.
Aceita como se aceitasses chocolate
branco ou preto
e todos gostam de chocolate não é?
e de doces de várias matizes
como uma palete de 
Van Goh ou Rembrandt
ou Malangatana
Como uma musica blues e jazz
samba ou morna
ou rock em roll
cabem todas as cores.
Cada uma com a sua dor
Preta pele, alma sem cor
Não a podes mudar. 
Essa é quem és: preta! preto!
Esse é quem és:mulato! mulata!
Na tua alma não cabem distinções
nem fronteiras, 
nem descriminações
Não a podes mudar. 
Muda sim o orgulho 
pela sua criação.
Que artista, que poeta
o criador
que te inventou assim
com tamanha imaginação!

Estão todos convidados para a exposição

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