quarta-feira, 13 de maio de 2015

A violência do silêncio que se faz "selfies"

Sinais dos tempos toda esta violência. Homens batem nas mulheres, os filhos assistem e mais tarde batem nas namoradas ou nos colegas da escola. Namorados violentos que matam namoradas e alunos que batem em professores. Televisões transformadas em coliseu de Roma gozando o repasto. 
Violências que tiram selfies, fazem filmes porque se acham indispensáveis e tão bons quanto a última bolacha do pacote promovido com 50% de desconto no dia do trabalhador. 
Quem assiste bate palmas ou vira a cara, faz de conta que não viu, que estava distraído, como no metro não dar lugar a uma grávida, ajudar alguém que está no chão caído a pedir ajuda, alguém com fome que nos olha desesperado com fome, sem tecto e sem chão.
Como os que assistem a uma violação ou nela participam. E por aí vai, começando pela violência do sistema que nos faz ficar sem dinheiro para pagar as necessidades básicas de sobrevivência. 
E nos torna avaros, egoístas, narcisistas. Com um desejo insaciável de sangue igual à dos predadores. 
Queremos sangue e até nos crescem dentes caninos perante a perspectiva de uma carótida aberta. 
O nosso prazer é obtido à custa da humilhação, da vergonha e do medo do outro.
Tudo isto são sinais da doença grave da forma como vivemos. 
Das humilhações, vergonhas, medo a que os bullies nos sujeitam. 
São violações à verdadeira natureza humana. 
São violações à dignidade humana.
Estamos a criar psicopatas hoje para amanhã. Estão aí os sinais, os sintomas do corpo doente. A árvore está podre com quase todos os ramos e folhas doentes.
Estes jovens que bateram no colega e os que assistiram impávidos, incluindo o futuro realizador com os olhos postos no lugar do Tarantino, podem vir a ser futuros dirigentes políticos, soldados, deputados, gestores, violentadores, assassinos. Já têm a semente a germinar. 
Servirá o código de Hámurabi: "olho por olho dente por dente"? 
Se fosse pela justiça popular, eu como mãe do rapaz brutalmente humilhado e agredido? Talvez fosse, não sei. Em mim habitam o médico e o monstro. Tento dominar o monstro porque não o quero ver ganhar o combate. 
Se é a forma que quero para resolver a doença grave que os afecta? Não. 
É preciso ir à raiz. 
A violência anda aí destapada, às claras. Até se filma e tira auto-retratos e recebe a fama que procura. 
Está a avisar-nos que urge tratar em particular de um assunto: a educação. Em casa e nas escolas. 
E no todo. Tudo aqui nos leva a uma reflexão séria de quem somos e o que queremos como colectivo.
Se optarmos por continuar a viver miseravelmente com gente que nos humilha diariamente, este vai ser o exemplo que deixamos como legado a estes jovens psicopatas. 
É o dominó que cai peça a peça.
Tic tac o relógio não pára (sem AO).
Estes três adolescentes são o fruto da nossa incapacidade e do nosso silêncio. A culpa é colectiva. 
Porque a maior parte de nós, bons, silencia. 
Eles não são a raiz do mal, eles são o produto acabado do nosso mal.

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