segunda-feira, 25 de maio de 2015

África


És o meu útero
a minha casa, o meu nascer
o lenço que secou as minhas lágrimas
ao te saber deixada para seres esquecida
apunhalada e abandonada
deixa-me dizer-te
com a boca onde me nasceram
as primeiras palavras
os primeiros beijos
deixa-me contar-te o que contigo aprendi
quando me lavei nas tuas águas
ao rasgar-te a terra
eu envolta no sangue
da tua terra quente
quando no espelho te olho
vejo o rosto mais belo e bondoso
nascido para ter planos férteis
para seres grandiosa
para grandes feitos
que em montanhas de asas gigantes
de incalculável tamanho
se manifestam
para dares espécie a uma só raça.
A luz do sol reflecte em ti
para que ouro brote,
és diamante
para ser extraído e esculpido
num anel de grandiosidade
para fortalecer a tua maltratada espinha
para engrandecer os teus sonhos, os teus ideais
os teus homens e mulheres
que dentro de si já são tudo
que dentro de ti, tudo manifestam
deixa-me pedir-te: não mais rastejes,
não fiques no fundo do poço que teimam em te enterrar
agarra a corda presa nas tuas asas
observa o céu que silenciosamente te observa
e te espera
escapa da prisão, solta-te
sobe, trepa, e como dizem os poetas,
aprende a voar

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